sábado, 4 de março de 2017

O normal e o ideal


O normal pode ser o comum. Diz-se do comum que ele é o facilmente encontrável em certo tipo de lugar. Em uma escola, encontra-se pessoas que sabem matemática. Matemática é comum na escola mas é incomum fora dela. Falar português e possuir um conhecimento mínimo acerca desta língua é comum no país em que vivemos. É mais comum do que possuir um saber técnico de matemática.

Ainda como comum, o normal pode ser entendido como o encontrável em um grupo social. “O normal da minha família é todos dormirem após as duas da manhã. Nem todas as famílias ou grupos agem assim. Anormal, na minha família, é alguém dormir cedo. Isso é raridade.” Então o normal é o que mais frequentemente ocorre, tendo em vista um lugar ou um grupo. Contraposto a ele está aquilo que é o raro.

Diz-se também do normal que é o que diz respeito à natureza de algo. É normal para o torcedor gritar. É normal para os seres humanos sentirem tristeza com a morte de um outro ser. Esta normalidade ocorre dentro de um leque de comportamentos mais ou menos intensos, e fora do qual se é anormal. Um torcedor pode até não gritar, mas se ele não faz questão de ver os jogos, não é torcedor. Uma pessoa que não demonstra emoção com a morte de um parente pode estar dentro da normalidade. Agora, ficar alegre com a morte de uma mãe, é anormal.

Dentro da política, considera-se normal que haja certo nível de corrupção e ineficiência governamentais. No Rio de Janeiro, acostumou-se a isso. Alguns dizem que seria impossível um governo isento de corrupção. Um elevado nível de corrupção e ineficiência no governo do Estado do Rio seria anormal. Infelizmente, o grau zero nesse índices também seria anormal.

Um outro sentido de normal, aquilo que é o ideal, o melhor que pode ser atingido por algo ou alguém, e que se torna uma norma sobre eles é, no caso do estado do Rio, completamente esquecido em nome da normalidade do “rouba, mas faz” ou “maqueia, mas também faz”. Como cidadãos, comparamo-nos com a falha da cidadania. Esta falha tornou-se uma referência de normal.

O mais frequente em nosso estado, o que nos é particular ou o que é da nossa natureza, vista por nós mesmos como corrupta e ineficiente, tornou o nosso normal. Jogamos fora o ideal e a busca por tornarmo-nos “versões melhores de nós mesmos,” frase de Richard Rorty.

Não se trata de dizer, aqui, que o governo é corrupto porque o povo também o é. Ou ineficiente porque assim somos nós. Isso mantém a nivelação por baixo, mata a dignidade e a importância daquela função nobre. É do ser humano evitar o que está por baixo, ao nível do solo, do pior da própria natureza, e buscar o que está acima, o que de melhor tem o homem. Isto poderia ser uma norma para ele, não?

O governo tem a obrigação de ser melhor, e de ser exemplo para os seus governados. E não por sermos maus, mas por não aceitarmos o mal no mundo.

Tomar como inescapável, um destino, aquilo que ocorre com mais frequência, ou o que se entende como a natureza de algo ou alguém, é abandonar a busca por um mundo melhor.

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