domingo, 4 de dezembro de 2016

Como votei


Escutei gente dizendo que os dois candidatos a prefeito do Rio, no segundo turno, eram dois merdas. Após a decepção com o Lula (até para quem não votava nele!), existe uma aversão generalizada quanto a todos os políticos.

O bom senso diz para evitarmos o Crivella: ele tem ligações com políticos acusados de crimes, além de manter junto de si uma base de ideias que estranham os gays e as pessoas com religiões diferentes das dele. Nosso bom senso é o de uma época que considera mesquinho não aceitar o outro diferente. E que não aceita o crime. Mas, por força de um populismo, fecha-se os olhos para ações criminosas, e se os abre para a imagem de um líder. Assim funciona a militância lulo-petista.

Há, no PSOL, muitos dos elementos que fizeram esse populismo petista: jovens e jovens-adultos ligados às universidades públicas, juntos a pessoas entre 30 a 40 anos com queixas para as quais a democracia liberal tem uma escuta, como as que se relacionam às desigualdades sociais. Certa cultura universitária era um molho e uma forma de expressão dessa massa, que também buscava uma figura totêmica, para objetivar e proteger suas inseguranças infantis.

Discursivamente, a infantilidade é disfarçada e aquela figura é mostrada como um líder. Freixo, professor de história, é chamado a ser representante de uma massa que vem se formando. Lula cumpriu esse papel nos 80. A figura do operário arrefeceu o complexo de vagabundo de todo aquele que escolheu para si a universidade. O professor de história, por sua vez, é um escudo contra ataques de uma direita que vem ganhando força. Talvez ele tenha uma explicação para o socialismo estar acompanhando sua ideia de liberdade.

O PT caiu, com os seus crimes. Mas o lulo-petismo, para alguns, ainda é um salvo-conduto moral. Freixo atacou a organização milícia-Garotinho, na Zona Oeste. Ele também venceu o PMDB. Acredito que ele não se envolva em nenhum negócio. Mas um herói torna-se o bandido de amanhã se, para ele, o mal estava concentrado no bandido que ele combateu.

Votei no Freixo porque hoje ele era um bom candidato. A milícia e a corrupção policial precisam ser desmanteladas. Os pobres e as minorias precisam da clareza que Freixo demonstrou acerca do que é preciso fazer. Quando fala de forma mais ampla, contudo, a ideologia aparece forte em seu discurso: após a derrota para Crivella, Freixo disse, ao seu público, que eles venceram, pois estão juntos, na rua, e só aumentarão. “A cidade é deles” (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/eleicoes/2016/noticia/2016/10/nos-vencemos-esta-eleicao-diz-freixo-apos-ser-derrotado-no-2-turno.html).

Nos últimos meses, na cidade viam-se muitos jovens com adesivo de 50, no corpo. Hoje, dia da eleição, pai, mãe e filhos estavam com esse adesivo. Se houvesse máscara do Freixo, e não fosse ridículo usar fora do carnaval, eles usariam. São como feixes do Freixo.

O PMDB ou o Crivella, no poder, movimentam uma máquina criminosa que já está instalada. Um dia o PSOL também pode ser uma, sustentada com o aval dos seus feixes.

A cidade não pode ser minha. Nem pode ser nossa. A cidade é onde moramos, e devemos cuidar. Temos uma relação de interdependência com ela. Mas ela não pode me ou nos representar, por ela estar acima das particularidades. Não posso usá-la, criando uma ideia de coletivo, para exercer minha vontade de ser absoluto. O PT quis ser uma máquina assim. E, no mensalão, mostrou querer dominar o governo.

Freixo não reconheceu a derrota nas urnas. As eleições são a manifestação da vontade das pessoas, na medida em que a maioria decide quem vence, e quantidades gradativamente menores de pessoas vão decidindo as colocações gradativamente inferiores. Os votos brancos e nulos são uma escolha legítima, que comunica uma insatisfação com as opções disponíveis. Eles precisam ser respeitados, pois a divergência de opiniões é democrática. Mais democrática do que dizer que venceu, quando se perdeu, e que seu público é o dono da cidade.

No caso dessas eleições, Freixo me pareceu uma boa escolha. Digo isso sem adesivo no peito. Nas próximas eleições, o caso será outro, e o pensamento também terá de ser.

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