domingo, 4 de dezembro de 2016

Beijo-trauma


Andávamos na rua. Ela reparou em duas meninas se beijando. Eu não reparei. Quando vejo coisas assim, sorrio. Ela disse da vontade dela de vomitar, por aquele absurdo. Depois, em uma conversa, isso virou uma fala do tipo “onde esse mundo vai parar?” Fui lavar as louças do bolo.

Agora é tarde, e vejo vídeos de um professor de canto que comenta sobre cantores. Dos que assisti, ao escrever isso lembro dos vídeos sobre a Cassia Eller e a Elis Regina (https://www.youtube.com/watch?v=MTXgJoH4MxM e https://www.youtube.com/watch?v=La2tvTtqgsI). Fico triste e feliz ao ver qualquer coisa sobre elas. Sinto empolgação com os detalhes que elas punham em suas interpretações. Sinto vontade de chorar nas partes mais dramáticas. Sinto ternura quando lembro que a morte levou tão fortes e frágeis criaturas.

Elis certamente fez o que quis da vida. Não se conteve. Cássia também. Ela apareceu com uma música em que ela dizia que a mulher iria colocar a boceta na dela. Ela canta e não deixa se levar por vergonha. Ela não tinha vergonha, como todo artista de verdade. E eu não coro ao ouvi-la. Vibro com o ataque do leão.

Cassia e Elis cantavam o tempo todo. Então estavam sempre atacando. Pode ser que, se parassem de cantar, parassem de dar show, diriam um comentário preconceituoso sobre algo. Com a conhecida, numa festa, falariam dos políticos corruptos, da violência da cidade e dos meninos que acham normal serem gays. Falas que são reproduzidas pelos robôs do tédio.

Quando esses falantes trabalham, talvez façam coisas bonitas. O mal é o que fazem na hora livre, quando mostram-se pessoas satisfeitas com o senso-comum, que não param um pouco para preparar uma fala-ataque, que demonstre elaboração e inteligência. Ataque não é agressão: é bela exibição.

Eu, como penso, penso o tempo todo. Penso em dores. Penso na minha vontade de ver coisas melhores do que a mediocridade. Penso num assunto, muitas vezes enquanto digito. Tomara que apareçam uns gays se agarrando pra valer, na rua. Assim, os que reclamam de agarração, quando na verdade viram selinho, terão seus olhos arregalados e nem saibam o que fazer. Algo neles mesmos se movimentará sozinho.

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