sexta-feira, 23 de setembro de 2016
Generosidade e mesquinhez
O menino amava a árvore. A árvore ficava feliz quando ele se balançava em seus galhos, descansava à sua sombra, comia dos seus frutos. Um dia o menino sumiu. Voltou crescido.
A árvore animou-se, chamou-o para brincar, como antes. O menino crescido se disse preocupado em ganhar dinheiro. A árvore ofereceu-lhe seus frutos, que ele poderia vender. A árvore ficou feliz, e o menino crescido partiu.
Algum tempo depois, o menino retorna. Um homem. Novamente a árvore o chama, para brincar com ela. Ele quer uma casa, mas não sabe como conseguir. "Meus galhos estão aqui para isso! Pegue-os." Assim fez o homem, e saiu com os galhos. A árvore ficara feliz.
Muito tempo depois, o homem meio velho vem até a árvore. Não quer dinheiro, nem casa. Ele está cansado, e quer ir para algum lugar distante. A árvore alegremente disse para ele cortar seu tronco, e dele fazer um barco. O velho faz isso, e vai embora.
Mais algum tempo depois, o velho vem até o toco da árvore. Este, muito alegre em ver o menino, chamou-o para brincar. O velho não tinha mais dentes para comer frutas, nem pernas para se balançar. Ele mal conseguia parar sobre a própria coluna, reta. "Sente-se em mim, e seja feliz!". O velho sentou-se, e ali permaneceu.
A árvore fica feliz em dar. É generosa por dar o que sabe que tem de melhor: sombra, frutas, galhos, tronco, toco. Ela dá sem esperar retorno. Ela o faz porque isso a faz feliz.
Ela dava sem se preocupar em se esgotar. O homem é carente, sempre precisa de algo. E pega o que acha que é exatamente o que precisa, o que o satisfará. A árvore dá aquilo e muito mais, não é um espelho da carência do homem.
O menino esbanjava alegria. Tinha alegria para dar e vender. Alegre de quem dá! Quando cresceu é que ele passou a precisar. E também passou a se preocupar com seu próprio fim, e quis se preservar. A árvore manteve-se generosa, pois jamais poupou a si.
Mesmo reduzida a um toco, o espírito da árvore estava inteiro, para ficar feliz com o menino. Vida existe para se gastar, não se economizar, mesmo ela sendo uma só. O que há depois dela? Quando o homem morrer, a árvore não estará mais lá.
A generosidade da árvore não é a do mesquinho, que oferece tudo, mas querendo que o outro pegue pouco. E ainda o chamando, no seu íntimo, de aproveitador.
A subjetividade da árvore é plana: ela simplesmente fica feliz por dar. Ao homem, contudo, atribuímos uma segunda intenção: imaginamos más as aproximações dele em relação à árvore, e mau o que ele diz a ela.
Talvez nós mesmos estejamos entre a mesquinhez e a rapinagem, e nos seja estranha a generosidade. E talvez estejamos psicologizados demais, deixando de ver a árvore.
p.s.: Este texto é um comentário ao livro "A arvore generosa", de Shel Silverstein.
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