quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Fugir do Temer?


Um rapaz chegou pelas minhas costas, hoje, esticou a mão até a minha. Virei-me, olhei-o nos olhos e ouvi “Fora Temer”.

Antes de qualquer coisa, as pessoas estão soltando “Fora Temer”. Não falam nada, não mudam a expressão do rosto, nada. É como se fosse um cartão de visitas, distribuído por alguém que nem ao menos antes fala a que veio. Quer ser aceito. Na marra.

“Vão ter que me engolir, não importando o que pensem ou o que digam”. “Não vou escutar, não quero saber nem do que eu mesmo estou falando.”

O Golpe de 64 foi mais do que a derrubada de um presidente democraticamente eleito e a instauração forçada de um governo ditatorial: é um bicho-papão, talvez a pior coisa que uma pessoa considera que tenha existido no planeta. É um monstro com ares de absoluto, do qual nem se tenta descrever direito e já se grita por socorro.

Ameaçadas pela volta desse monstro, muitas pessoas estabelecem, para o que ouvem na escola ou para o que escutam em suas relações e na mídia, níveis de periculosidade para o retorno do monstro: individualidade-família-lei-religião-consumo-mercado, numa escala gradual do menos para o mais perigoso. Para cada um desses males há um remédio, seguindo a graduação: igualitarismo homogeneizante-ser contrário a pais, professores, juízes e padres, ou seja, a todo mundo que saiba mais e proponha mudança de comportamento-evitar comprar coisas, ou de preferencia comprá-las usadas, e plantar ou reaproveitar o máximo possível para vestir, comer ou usar.


O PT ganhou o amor de uma multidão não pelo discurso da honestidade, e não exatamente pelo discurso “pró social e minorias”. O ibope do PT foi conquistado por ele ser um catalizador da solução daqueles males que levam ao grande monstro da ditadura.

Se O PT faz bolsa-família não é porque milhões de pessoas precisam sair da miséria e terem uma participação no consumo. É porque quem consome gostaria de livrar-se deste mal, embora não queira, então por isso estanca a fome de quem morria disso só para poder ficar perto dele, acompanhando-o na sua pobreza redentora.

O PT não faz cotas éticas em universidades porque o negro e o branco precisam conviver no espaço que tem um nome que sugere a inclusão de tudo o que existe. Para os que têm medo de monstro, e no discurso dos que metem esse medo neles, os negros entram na universidade como uma vingança contra os brancos. E estes brancos jamais os aceitarão, por isso o negro, mesmo matriculado e estudando, deve empreender ações que atrapalhem as aulas do brancos, que também poderia ser a deles, se eles quisessem.

“Fora Temer” é o balbucio de quem se vê diante do seu pior pesadelo, e não tem qualquer recurso para entendê-lo. Perguntei ao rapaz do início, “porque Fora Temer”? “Porque o PMDB sempre se elegeu de forma indireta, golpista. E por ser corrupto.”, ele me respondeu. Enquanto isso, eu me perguntava: mas o PT também era corrupto, e os que dizem ‘Fora Temer’ não gritaram ‘Fora PT'”. Eu também me perguntava: “Fora Temer, mas depois o que?”

Temer saindo, o que vem depois? Ele é o monstro que surgiu por resultado do golpe, de modo que há de se tirá-lo a qualquer custo, da nossa frente? Seus pais vêm a acendem a luz. No momento em que o jovem acha que estudar é gritar na rua e interromper aula, dar de ombros para quem sabe mais do que ele e ansiosamente buscar uma causa e um necessitado para chamar de seus, o presidente acaba com as escolas, substitui os pais ou figuras vencedoras por sua capacidade e talento, e se apresenta como quem mais entende de pobre e minoria, fazendo crer que fez por eles, e ainda fará, coisas que nenhum político mesquinho faria.

Esse presidente é o grande pai, e superior a qualquer valor, lei ou razão. “Fora Temer” quer dizer “Fora sentir medo”. “Fora dar ouvidos a qualquer coisa diferente da voz do meu líder, que me diz que cuida de tudo, ou me mobiliza certinho, e não força o meu pensamento”.

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