quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Como conheci Elke


No Silvio Santos eu via a Elke, o Pedro de Lara e a Rogéria. Pedro escondia bem o próprio sorriso. Rogéria era uma senhora bem chique. Elke também era uma travesti, mas com um jeito de quem comeria o mundo. Boca e braços abertos.

Era mãe, compreensiva. E era uma mulher que deixava ver sua gostosura. No Silvio Santos, ela também era travesti. A Flor não era travesti, por ser a moça bonita que de vez em quando eu via por aí. Alegre de um jeito que te engole era a Rogéria, se você fosse especial. E Elke te fazia especial.

Havia os homens, a Flor e a Sonia Lima. E as travestis. Eu gostava dessa palavra, travesti, entendia que era uma mulher misturada com homem, e com o melhor das duas coisas. Imagina se sua mãe pudesse te olhar ao mesmo tempo como mãe e como amigo? E se o seu amigo te abraçasse e não fosse um homem?

Não faz muitos anos descobri que Rogéria era a travesti do programa. Então, de onde vinha aquela alegria da Elke? Sempre pensei que, quando se era uma pessoa rica, a alegria vinha junto. Pois ser alegre é irradiar, e só irradia quem tem de sobra.

Elke era incompreensível: não era a minha mãe, não era meu amigo, não era a mulher comum, da rua. Deixava-me confortável, enquanto criança. E me prometia um mundo divertido, quando eu fosse adulto. Um mundo divertido e seguro, pois seria guiado pela Elke.

Elke era conforto e aventura. Não que fosse familiar, pois veio de um lugar distante e há muito tempo. Mas deixava essas coisas atrás de si, para que de vez em quando te mostrasse. Na frente havia os seus olhos e longos braços que, quando não festejavam, se esticavam. Enquanto a boca abria.

Era uma mulher que, mesmo segurando um cigarro, nunca tinha as mãos ocupadas.

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