quarta-feira, 27 de julho de 2016

Mais do que os olhos podem ver


"Precisamos de um líder que seja digno das promessas que faz às crianças, dos seus sonhos mais altos."

Há oito anos, Michelle falou em público, pedindo votos para um homem que ela conhecia bem: doce, capaz e persistente. Barack demonstrou ser tudo isso. Agora, Michelle, uma teacher, veio assegurar-se de que estávamos vendo o mesmo que ela. E de que víamos o que acontecera conosco.

O homem que Michelle conhecia tornou-se de todos. O olhar generoso e alegre, de Barack, pôde cobrir a América. Alguns comentaristas de televisão um dia questionaram a nacionalidade e a fé de Barack. Mas isto não chegou a abalar a fé das filhas dele e Michelle, pois a mãe estava lá para mostrar o que elas já sabiam.

O novo discurso de Michelle é o de uma mãe da nação: a mãe explica o sentido do que o pai faz; esmiuça, esclarece os mal-entendidos e apazigua os mal-estares. A mãe restabelece a fé das crianças no pai. E a fé, sabemos, é o único modo de vermos mais do que os olhos podem ver.

Os anos de presidência de Barack foram os anos centrais no desenvolvimento das suas filhas. Ele tinha o dever de ser um grande presidente, se quisesse ser um grande pai. E ele seria um grande presidente se pudesse ser um grande pai.

O exemplo de Barack, para suas filhas, o que ele mostrava para elas, foi o mesmo que ele mostrou para a América (para todas as Américas). E Michelle agora nos fez ver os últimos anos da casa dela e do nosso país.

Em situações de crise, o líder reúne-se com as diferentes pessoas e conversa. Em condições de desigualdades as mais diversas, o líder entra para reequilibrar, não para deixar alguém para trás, pois sabe que as diferenças é que fazem o todo ser forte. Em situações de conflitos, o líder se informa, reflete e toma decisões firmes, e baseadas em princípios.

Um líder, enfim, preocupa-se se o país que está deixando para as crianças é mais próximo dos sonhos delas do que dos objetivos colocados por especialistas do déficit, da miséria, da falta. As crianças olham para si mesmas e o mundo. O tanto de desconhecimento, de curiosidade, que elas têm, é o tanto que elas são capazes de esperar coisas maiores e melhores. A criança olha um docinho e imagina um doce grande. Ouve uma promessa de passeio e imagina uma grande viagem. Ela olha para algo e lhe vem uma coisa muito melhor do que aquilo.

Esse olhar generoso a criança também oferece a quem está mal. A criança não vê as coisas como estando determinadas, mas sempre como podendo ser mais do que são. Essa generosidade permanece sob a forma de os princípios que uma pessoa tem: o ser honesto, o respeitar alguém, o não jogar lixo no chão da rua são regras que a pessoa coloca para si justamente porque um dia ela esperou coisas maiores e melhores do que o que via à sua frente.

Um papel de bala no chão é um mal maior do que um pedaço de plástico que precisará ser varrido por um gari, pois entupirá os esgotos e causará uma enchente catastrófica. Essa ideia infantil permanecerá como uma impressão ou uma fé, no adulto. Um adulto assim é atento ao que acontece, e ao mesmo tempo tem um olhar mais amplo sobre isso.

Michelle chama nossa atenção para as crianças que estão sendo educadas. Ao fazer isso, insere-nos na sala de educação infantil: por que não querer o que ela está dizendo? Por que não posso querer esse mundo melhor?

Trump e Bolsonaro são revólveres: você só via sua própria insatisfação, alguém apontou o motivo dela e te ofereceu a solução. Basta apertar o gatilho. Afastam-se os diferentes, limpa-se a vida social dos objetos nefastos, e sobra o homem seguro num cenário onde nada acontece. Então este homem arrumará outra coisa para odiar e querer deletar do mundo, pois ele não consegue imaginar nada, precisa de objetos à frente para serem apontados como maus.Sua visão é estreita. Ou é cansada, vê tudo igual e, geralmente, tudo ruim.

Eis uma nação de gente com medo do vizinho. De crianças ensinadas que em todas a esquina há bandidos. Crianças que tiveram os olhos generosos roubados por homens que lhes impuseram seus olhos paranoicos. De adultos acostumados a falarem em necessidades e dívidas, e a pleitearem uns dos outros, e do Estado, atendimento ou vingança por atendimentos não prestados.

A lição da teacher une a casa e o país: o bom exemplo de um é o bom exemplo do outro. Não é possível haver um presidente que roube, e que seja um homem que durma em paz. Menos possível, ainda, se ele está publicamente desacreditado, e apenas grupelhos o defendem.

O líder firme e doce tem a nação ao seu lado, e justifica a admiração dos próprios filhos. É visto por todos como bom. E como tendo tudo para ser melhor. Tal é a fé que se tem nele.

O homem que abandona seus princípios, aquilo que aprendeu quando criança, será ou o homem da "rápida resolução dos problemas" ou o homem das "ilegalidades justificadas". Ambos se alimentam das mágoas do mundo, e apresentam-se como magoados-mor e, por isso, vingadores.

Homens assim fazem a própria família ser envergonhada e perseguida junto deles. E em lugar nenhum eles são vistos como estando além da mediocridade e da baixeza. Bolsonaro e Trump têm cara de baixos, indignos, e de que vivem esbravejando por causa disso (no caso de Bolsonaro, com uma má dicção).

Os Eua, com Barack, viram-se de forma mais leve do que se viam no governo Bush. Não houve animosidades internas, e o presidente jamais chegou a ter um índice expressivo de rejeição. Mas essa paz não se deu com Barack evitando mexer em grandes empresas e intervir em líderes de outros países. Barack fez o necessário para melhorar o equilíbrio social e econômico do país.

Há oito anos o clima é de paz, e isso permitiu aos americanos serem um pouco mais como crianças, ou seja, a quererem mais do que os olhos podem ver: a quererem o melhor.

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