terça-feira, 2 de agosto de 2016

Contra o fogo olímpico.


Queremos apagar o fogo olímpico. O fogo que corre nossas ruas e tenta evocar espíritos olímpicos em nós. E fazê-los girar em multidão de insetos na luz. Seria o "brasileiro que ama esporte".

Em época de Copa, Galvão gasta saliva e a paciência tentando fazer um Brasil, empurrando a paixão por futebol. É como se a Seleção, que "joga moleque", fosse como eu e você. E é como se ela desse exatamente o que nos falta: um povo carente precisa de um divertimento para a necessidade frustrada não virar abandono, e o orgulho ferido não virar ódio.

É por molecagem que eu e você falamos em apagar a tocha (enquanto a molecagem da Seleção é acrescida de habilidade, a nossa é para atrapalhar algo). Não há qualquer discurso, movimento, fazendo isso. Discurso e movimento são o olímpico.

Há esboços de discurso contra-olímpico lembrando das más condições das políticas públicas. É uma cutucada pela lógica da necessidade que não tem feito muitos adeptos, não está formando alguma coisa. É mais da ordem da reação.

Não sei o que é o Brasil. Somos algo indefinido. Quando há eleições presidenciais, mostra-se a multidão do candidato x e a multidão do candidato y. O Brasil, então, fica parecendo estar divido em dois. Para nós, o natural é sermos um. Tanto que, se grupos divergentes e pró-governo surgem durante um mandado presidencial, diz-se que o Brasil está patologicamente rachado.

O Brasil, na verdade, pode ser muitas coisas, e muitos. Mas os indivíduos têm brincado de tentar apagar a tocha. Se o Brasil que segura ou quer segurar a tocha é o "bom Brasil", que é pobre mas continua trabalhando, e levando fé nas olimpíadas, aquele que quer apagá-la é algo que não se importa com ela ou com o anzol da humildade, da fé e da alegria, que lhe lançam.

Não é o mau-Brasil. Não é o Brasil. Não é um todo, porque não há amor-necessidade, necessidade-que-faz-amar, unindo-o. São indivíduos que fazem pouco caso. Não são os que querem apagar a tocha por sentirem ódio. Até os há. Mas o espírito geral é o de não importar-se.

Se há a vontade de apagar a tocha, é quando ela "por um acaso passar perto da minha rua". Dou um pulo lá e jogo um balde d'água. Depois conto essa história, nos intervalos da atividade que eu faço, que considero um pouco mais importante para mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário