sexta-feira, 17 de junho de 2016

O jovem mortal


Um grupo de jovens conversava no meio-fio. Um carro para na frente deles, manda-os correrem, exceto um. Este devia ficar parado, e é executado. O pai tinha dívida no tráfico, e a tragédia engoliu sua família. Um dos jovens que correram não tem tragédia: foi trabalhar, estudar, fazer família, trabalhar mais, etc.

Um caminho de "estudo e trabalho" é o que geralmente se diz aos jovens, embora, para alguns, ele seja de "trabalho, estudo e trabalho". O jovem que correu seguiu um caminho parecido com aqueles planos, mas que não foi uma cópia exata deles. Disseram que se ele seguisse o plano, afastaria a morte, teria algum dinheiro e garantia, e seria feliz com sua família. Estas coisas aconteceram, mas a morte, contudo, nunca saiu de perto dele.

O filósofo romeno Emil Cioran conta que há dois tipos de homens: há aqueles que passam a vida negando a existência da morte, e há aqueles que nunca deixam de se lembrar dela. A morte não cessa de crescer na vida destes homens, e isto causa a sua mudança. A saúde, pelo contrário, é o que paralisa a vida, assegura escolhas e caminhadas sem surpresa.

O homem que afasta a morte viveu de forma exata. Morreu de repente. O homem que convive com a morte, fez dela o seu temor e o seu tema de longas conversas. Cada centímetro que a morte cresce é por ele decepada: algo novo para cumprir no trabalho, a doença de uma mãe, o cansaço de conciliar trabalho e estudo, a falta de dinheiro para a festa do filho, e ele dá o próximo passo.

A morte é precisa como um ponto final. Assim também é a vida distante da morte. Pense num cara de terno, com plano de saúde e seguro de vida. Ele não pode morrer. Pum!, morreu. A precisão da vida a rebaixa ao túmulo, disse Cioran. E ela acaba de repente.

Agora pense naquele que pula de para-quedas. Uma vez por mês ele beija a morte, torcendo para a que a morte não ponha a língua em sua boca. A vida dele não é nenhum caminho, preciso ou impreciso. Ele gira em torno de si mesmo, compulsivamente.

O jovem que uma vez correu, e então reduziu a velocidade, está andando. A presença da morte na vida dele a deixa imprecisa. Ele vai morrendo a cada instante em que vive. Isso o leva a dar passos novos.

A morte é um filme, contado pelo jovem, sobre uma família perturbada por espíritos: os personagens morrem ou enlouquecem. O filme é próximo o bastante para que haja a identificação, mas distante o bastante para que não seja o próprio jovem ou sua família o alvo. Espíritos não são bem reais.

Ele pode comentar sobre uma moça que foi baleada em um assalto. O cara estava louco, ela deu mole. São histórias que o jovem conta, tragédias. Elas não vão matá-lo. Ninguém está livre de espíritos, da loucura, de ser assaltado ou baleado. Quem sabe o que pode acontecer? Mas o jovem vai simplesmente dando seus passos.

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