quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Lógica da morte



Seres que antes não considerávamos "um de nós", hoje consideramos. Isso tem avançado com o boi e o porco. Pode acontecer com o embrião humano imaturo. No entanto, nossa sensibilidade geral é anti-aborto. Um feto já é considerado um de nós. O impulso pró-aborto busca, então, delimitar um momento entre a concepção e o que se considera o início da vida humana (a atividade cerebral), e o que se encontra em desenvolvimento, no interior deste momento, seria algo possível de ser eliminado.

Em outras palavras: entre uma ação, intencional ou não, que resultou na concepção, e o feto humano reconhecível por ultrassom, que impõe exigências a todos que têm a ver com ele, ou ainda, entre um momento de mais condições para a decisão, e outro com restrições nas possibilidades de decisão, criou-se um momento em que pode-se intervir. É como se as pessoas envolvidas com o feto tivessem uma última chance de intervir sobre seus destinos, e pudessem empregar todos os meios para isso. A atenção que faltou, momentos antes da concepção, torna-se super-aguçada na lida com o embrião humano imaturo.

A liberdade apresenta-se como um grande valor mas, uma pessoa que pede por ela, não raro desconsidera os seus parâmetros. É liberdade em relação a tudo? Em relação a coisas específicas? Liberdade, para ter sentido, precisa ser uma busca baseada nas condições atuais de um indivíduo: o saber que ele possui, as coordenadas geográfico-históricas onde ele habita, e o espaço de intimidade em que ele se fez em condições de ser sujeito, darão um leque de possibilidades de ação. E dificultarão outras. Liberdade é reconhecer esses fatores de onde se parte, e então decidir o que fazer. Não é o desligamento total de tudo: alguém assim ou é uma lufada de ar, ou é psicótico que, no corte com o mundo, aferrou-se a um delírio que ele mesmo produziu.

Ter um filho traz uma série de exigências, desde a gestação. Homens, mulheres, de todas as idades e funções familiares têm seus afazeres e preparo. E esse processo é curtido por todos. As posições pró-aborto consideram as exigências de uma gestação como se abatendo apenas sobre a gestante. Sim, há muitos e muitos casos de mulheres que se encontram só, durante a gravidez. Mas o certo não seria que elas tivessem um acompanhamento, um acolhimento, ao invés de uma autorização para interromperem uma gravidez, caso não a queiram, e continuem seguindo sozinhas, no "meu corpo, minhas regras"? Poderíamos pedir uma política de maior atenção às gestantes.

As exigências decorrentes de uma gravidez parecem ameaçar os que querem liberdade a todo custo, inclusive ao custo da eliminação das relações e dos compromissos que os constituiu, e eles estão indo ferozes em cima do embrião. Recusam-se a ver outro modo de lidar com uma gravidez indesejada. Estão agindo sob a lógica da morte, da eliminação da ameaça à "liberdade total", abstrata. Essas pessoas nunca serão livres, pois são justamente as que não sossegam, não param de criar grilhões contra os quais lutar. Nunca estão em paz.

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