quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Estereótipo é ruim?


Ontem reparei que minha filha assistia à novela Chiquititas. Hoje perguntei a ela se a história também se passava em uma escola, como a da novela Carrossel, que recentemente ela acabou de assistir. Era num orfanato, ela disse. Ao ouvir isto, me adiantei e contei que as crianças do orfanato não têm família, e complementei dizendo que isso era triste. Ela falou que não era triste pois, na novela, elas formam uma família, junto com as pessoas que cuidam delas.

Minha fala baseou-se no estereótipo de que crianças em orfanatos não têm família, e que por isso são tristes. Geralmente, quando, em uma conversa, estou explicando algo, e à cabeça me vem um estereótipo, um encadeamento de ideias que, socialmente, vêm atreladas a uma palavra ou imagem, procuro pensar no que é particular do caso sobre o qual se está falando, e que escapa às ideias do estereótipo.

Quando falei o estereótipo para a minha filha, sobre o orfanato e as suas crianças, rapidamente ela me apresentou ideias que não eram as do estereótipo. Quer dizer, quando não sou eu que faço o trabalho de ver o que o estereótipo não dá conta e, ao invés disso, solto-o numa conversa, a outra pessoa, que está atenta ao caso, portanto sabe as suas particularidades, é quem diz o que está além do estereótipo.

Jean Willys, uma vez, comentando o seriado Sexo e as Nega, da Globo, não falou o lugar comum de que o estereótipo é ruim pois, quando é utilizado para se referir a um caso, é desatento à sua particularidade. O deputado disse que estereótipo tem função comunicativa, é a transmissão de uma ideia que é facilmente entendida pelo destinatário. Após esse primeiro entendimento, ideias novas podem ser apresentadas na conversa. O estereótipo não precisa se perpetuar.

Sexo e as Nega apresentava mulheres negras moradoras da favela, que trabalhavam e gostavam de sair e se divertir. Às vezes faziam sexo casual. Houve reclamação de que isto era o estereótipo da mulher negra. Claro que é estereótipo! Mas, uma vez estabelecido que as histórias se passariam com personagens com aquelas características, o desenrolar das situações levavam-nas para outros caminhos, e a expor características diferentes.

Uma história pode partir do que nos é familiar (e o familiar são ideias assentadas que levamos conosco e aplicamos para entender as situações por que passamos. O familiar tem todo o funcionamento do estereotípico), mas, se for uma boa historia, nos levará a viver outras coisas.

Estamos sendo capazes de não pararmos no estereótipo, e de sermos bons leitores para boas histórias?

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