quinta-feira, 8 de outubro de 2015

MC Pai

Gustavo, Mc de Niterói conhecido como Black Alien, acabou de lançar online seu novo disco (https://m.youtube.com/watch?v=ALFAG8dvycY). Segundo disco, após dez anos do primeiro, muito querido pelos fãs de rap. Eu esperei pelo novo disco. Gustavo disse, em entrevista recente, que respondia aos pedidos dos que queriam ouví-lo, que ele próprio também queria ouví-lo. Mas um disco é um filho, ele diz, que você traz para este mundo e precisa conduzí-lo pela mão. Nem de pé ele consegue ficar, sozinho. Gustavo estava fazendo-o com muito carinho.

Gustavo passou a maior parte desses anos usando drogas, ele mesmo diz. Faltava a shows, ou se apresentava não tão bem para quem o via e chamava seu nome. De poucos anos para cá, entrou em uma clínica arborizada, espaço para refletir. Ele gosta de falar, e suas letras são extensas, mas calou-se. Pensou sobre a vida. Queria não mais dar sofrimento a quem gostava dele. Não queria jogar o próprio sonho no lixo.

"Eu vou ficar bem" é um verso repetido em uma das músicas novas. Em outra, ele é um avô dizendo tin tin por tin tin como será um avô que cuida do netinho. Gustavo tem 42 e, se não me engano, não tem filhos. Ele não conheceu um avô. Conheceu mãe, sempre fala dela. Ele quer pegar na mão dos jovens, acelerados. Cantar músicas de amor, para que namorem. Músicas de guerra, porque o rap vem da guerra. "Mas é sempre de amor".

Gustavo quer cuidar. O disco novo cuidou dele: começou a ser produzido na clínica. Antes disso ser possível, Gustavo olhou muito para a folha branca, sem o apoio da bebida e da coca. Escreveu e jogou papéis fora. Escreveu e amassou papéis, patinou e caiu. Todos caímos. As drogas te suportam, no início, não te deixam cair. Mas depois põem o peso do mundo sobre você. Limpo, Gustavo saiu do branco. Escreveu bem. Gostou do que escreveu. As rimas eram, afinal, amigas que o apoiavam.

Completou o tratamento na clínica. Mantém-se em tratamento fora dela, diz. "Só por hoje". Vai a religiões e diz que a própria vida está mudada e melhor. "Há uma inteligência que cuida de tudo, equilibra". Zen, mantém para si este pai, que lhe faz bem.

Hoje, disse ver tudo do palco, todos os cabos. Se o som falha, conta piada. "A arte é um trabalho especial, fazer as pessoas pensarem outras coisas, dançarem". É o seu modo de se sentir responsável por quem o vê. Hoje ele olha no olho de cada um, no público. São seus jovens, filhos. A filhos se passa recados. Na música do vovô, ele ensinava a andar. Tudo isso é cuidado.
Gustavo encontrou um mundo de proteção e suporte, para si mesmo e para os muitos que ele ouve chamarem-no. Pai.

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