quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Igreja católica e igreja evangélica


Em uma ocasião recente, estive numa igreja católica. Em outra ocasião recente, estive numa igreja evangélica.

Esta não é uma observação etnográfica pura, pois insiro informações não adquiridas nos eventos.

Na católica, havia o padre e seus ajudantes, em pequeno número, todos vestindo roupas especiais. Eles cumprem um programa de orações, intercalada por falas. Este programa, em celebrações, é o mesmo de há muito tempo. As falas que intercalam as orações seguem o seu tema, embora tenham alguma improvisação. O que fazem os celebrantes é estudado, e ocorre ordenadamente e sempre da mesma forma.

O público fica em silêncio, olha para frente, e às vezes para o alto, para ver a decoração. Em uma passagem lida pelo padre, a cerimônia coloca os homens, seres que passam, no caminho para aquilo que não passa. Por isso é que a cerimônia é sempre a mesma, e em relação a ela os celebrantes e o público têm reverência. É algo maior do que todos eles. É uma relação entre criador e criatura. O fato de as vestes e o comportamento dos celebrantes ser diferente de todos os outros presentes, diz respeito a uma tradição que coloca certas pessoas na importante função de comunicadoras do que está além do homem.

Na igreja evangélica, a bíblia que usam para orar não tem a palavra Yahweh, que é impronunciável pelo homem. Deus é tratado como Senhor, na proximidade que um filho tem para um pai. Deus não está distante, não é um ser de outra natureza. As músicas e orações dizem de agradecimentos por benefícios alcançados (o que provavelmente faz as pessoas do público pensarem no que vai bem, em suas vidas, e agradecerem por isso), e de reconhecimento de que se não está tão bem assim, e se precisa pedir melhorias (o que provavelmente faz as pessoas do público pensarem no que vai mal, em suas vidas, e pedirem melhorias).

O clima é de reunião comunitária, com todos falando entre si. Ou melhor: poucas comunidades se abraçam tanto quanto a formada pelos membros desta igreja. O pastor tem muitos ajudantes, e nenhum deles usa roupas de ritual. Os ajudantes movem-se rapidamente, cuidando da orientação de pessoas, da condução de crianças, e de tudo o mais que é feito por quem lida com um grande público.

Enquanto isso, o pastor canta, ritmado e com os olhos fechados. Ele agradece e pede. Todos o acompanham. Ele diz que o público forma uma comunidade irmanada pelo sangue de Jesus. Pede que uma pessoa olhe e abrace a outra. Um observa o outro. O pastor observa a todos. É como se fosse o irmão mais velho, aquele que melhor dirige comportamentos. Fazer parte da igreja é entrar nessa comunidade do olhar.

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