sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A tragédia e a beleza de Helena



Alguns anos de separação de uma pessoa, de familiares ou de uma cidade, podem ainda dar saudades e vontade de reencontrá-los. Ou pode ser vivido como perda irreparável. Na Ilíada, Helena está há nove anos casada com Páris. Ela era casada com Menelau, irmão do general grego Agamênon.

Páris, um belo troiano, bateu os olhos naquela mulher de divina beleza, e a quis para ele. Apesar de viverem em uma época de saques e tomadas de mulheres de cidades conquistadas, não se sabe se Helena acompanhou Páris a contragosto. Deixou, além do marido e parentes, uma filha. Devido a este fato, gregos e troianos passariam os nove anos subsequentes em guerra.

Em um episódio, os gregos avançavam sorrateiramente. Os troianos os avistam, e Páris se adianta ao seu exército, apresentando-se para enfrentar os inimigos. Ao vê-lo, Menelau, grego, também se adianta ao seu exército. Ele esperava pela chance de enfrentar o capturador da sua mulher.

Os líderes dos povos vêem a necessidade de aqueles homens lutarem entre si. Combinam os termos da batalha, que pode resolver a longa e detestável guerra. Helena fora chamada a presenciar a disputa por ela. A bela mulher vivia triste. Bordava as batalhas em uma grande tapeçaria.

Quando Helena soube do que estava prestes a acontecer, a deusa insuflou, em seu coração, saudades do antigo marido. Príamo, pai de Páris, chamou-a para que ficasse a seu lado. Em reconhecimento nas notáveis qualidades presentes do lado grego, ele lhe pede que diga quem são determinado homem de porte e jeito de grande líder, determinado homem altíssimo e forte, etc. Perguntava por cada um, sempre se referindo a eles como povo, a família e o antigo marido de Helena. Não teve pudor em afirmar este fato.

Helena considerava a si mesma desgraçada por ter separado deles. Deseja a morte, para a "cadela" que era. As perguntas de Príamo faziam-na dizer, com detalhes, quem eram os personagens apontados. Este dizer a fazia reavivar a memória sobre todos eles. A respeito de Agamênon, disse ser o seu cunhado, "se é que chegou a sê-lo". A tristeza por uma longa perda tira o lugar, no coração, para a saudades e a vontade de reencontrar; martiriza a pessoa, a faz achar-se má e insegura quanto ao lugar que ocupava naquelas relações. Havia, Helena, alguma vez ter integrado a família perdida? Havia ela tido importância, para aquelas pessoas?

Helena esmerava-se no bordado das contendas. O grande tapete faria com que os acontecimentos daqueles nove anos fossem relembrados por gerações futuras. Haviam sido nove anos de rompimento dos seus laços, de perda de si mesma. O seu sofrimento não era mais só dela: era o da própria guerra. E à medida em que o tapete ia ficando lindo, Helena ia se acabando.

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