segunda-feira, 15 de junho de 2015

Quem é o casal Boticário?



"Não se deve falar de problemas pessoais em fila de banco." Mas, quando alguém fala de problemas pessoais, a pessoa que proferiu aquela sentença espicha o ouvido para escutar.

Uns se queixam de homem com homem na tv. Não apenas as justificativas dos evangélicos são empregadas. Talvez as deles sejam as que mais apareçam. Outras pessoas apóiam os homens juntos, e nem sempre pelo argumento do "toda maneira de amor vale a pena", do Milton. E tem quem nada fale. Aqueles que mais emitem opinião, de todos os lados, vivem pedindo para os sem-opinião compartilharem as propagandas deles, no face.

À primeira vista, o cabo de força está sendo puxado pelos partidários dos que "consideram justa toda forma de amor", agora com Lulu, e dos que levantam a "definição tradicional de família". Quem os assiste, imita seus jargões. Alguns desta audiência, mesmo quando espremidos, não superam o slogan. Outros conseguem ir além, e dizem outras coisas. Na fila do banco, contudo, fica-se na fórmula fácil. Na tv, também.

A disputa também parece ser entre o poder mostrar o que antes não se mostrava, e o continuar não se podendo mostrar o que atualmente não se pode mostrar. Velhas reclamam da minissaia das moças. As moças querem mostrar as pernas, por elas mesmas mas também por uma contra-opinião. As moças reclamam das velhas de minissaia. As velhas querem mostrar as pernas, por elas mesmas mas também por uma contra-opinião. No desejo de uma tem um boicote ao desejo da outra, na disputa por ser aceita pelo Outro.

A militancia gay quer muitas coisas, mas, no mais expressivo, quer o que os evangélicos não querem. Espera a voz deles para ir contra o que disseram. É como aqueles que assistem ao "Fala que eu te escuto" para arrumar seu ateísmo. E a militância evangélica segue o mesmo comportamento.

Assuntamos o "gay". Ele deve ou não aparecer? Essa é a questão colocada, e respondida por afirmações das próprias opiniões, e ciúmes das do alheio. Mas, por que não um anão com uma mulher alta? Um anão com uma mulher vestida de palhaça? Permanecendo no gay: por que não dois homens presenteando um terceiro? Um grupo trocando presentes de namorados? Por que quem pode formar dupla amorosa pública é o que está em jogo.

Que cinco homens vivam uma paixão conjunta, isso não preocupa. A soleira da porta para o público é vigiada apenas para as duplas. A dupla é que inicia a família, a união de amor é sempre de dois. Esta é a foto que usamos para checar suspeitos de desvio. Em público, duas pessoas devem dar as mãos. O passeio é o lazer que exibe aos olhos de todos a célula formada por dois, que se mantém, na maior parte do tempo e sem ser vista, fazendo-se família e contribuindo com a sociedade. O que se discute é precisamente se o gesto de dar as mãos, às vistas, pode ser homo ou hetero.

A decisão sobre quem pode formar a dupla parece ter como desdobramento a liberação, ou a restrição, das outras formas de amor. Superando-se a questão de se é homem ou mulher quem dão as mãos, não haverá controle da quantidade de amantes, ou do seu tipo físico ou cor de pele. Os evangélicos prevêem isso, e dizem: "aonde passa um boi, passa uma boiada. A perdição será geral." Eu digo que a imagem da dupla harmoniosa, que formamos com um homem e uma mulher da mesma altura, tamanho de barriga e cor, sendo quebrada, fará com que notemos cada vez menos as variações de quantidade e qualidade, nas uniões.

Aqueles cinco amantes passam na frente de alguns militantes gays, e dos militantes evangélicos, e nem são notados. Estes se merecem. Malafaia sonha em estar na novela da Globo. E, pensando bem, não tem como um gay não comemorar o beijo gay na novela também como uma desforra.

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