quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A escola dá vida

Revi o filme American Pie (dir. Paul Weltz), de 99. Aquele tempo passou, para mim. Aquelas coisas foram sérias. Ri de como éramos jovens e não tínhamos descanso. Caras terminam a escola preocupados com o que virá depois. Não querem chegar na faculdade ou encarar trabalhos sem possuírem alguma experiência, como "novatos". Estarão longe da família e amigos. Querem ter algo que os permita dizer "teve uma vez, em que eu...". Eles têm um prazo para aprender tudo o que precisarão no resto da vida. O resto da vida será apenas repetição, coisas já vividas e sabidas. A escola é onde as coisas acontecem. E o sexo é a experiência decisiva, para começar a virar adulto. É o que dá a certeza de si mesmo. Os pais consideram importante o concluir da escola, a faculdade. E o filho nem precisa sair de casa, quando terminar.

Em Fast Times at the Ridgemont High (traduzido por Picardias Estudantis, no Brasil. dir. Amy Heckerling. 1982) a escola é um tempo pesado, em que é preciso trabalhar, estudar, sofrer por amor ou ser um negro alto e esportista, para escapar de ser um loser. O trabalho de chapeiro, garçonete ou entregador nunca trarão felicidade. E se se passar a vida toda, ali? Para nós, a escola termina muito rápido. Agarramo-nos a artistas, celulares e estilos. Ainda estamos ensaiando. Estamos na pré-vida, pois, apesar de termos uma profissão, a vida ainda não nos trouxe o que queremos, para começar: carro, bairro bom, viagens, etc. O que nossos pais tiveram no final, para nós é o necessário para a largada. No filme Fast Times, convida-se garotas para sair, para a primeira transa. Ou se é experiente e a garota é que vem. O esperto pega a garota do tímido antes de ele conseguir pegar na mão dela.

Spicoli (Sean Penn) está com nota insuficiente para passar: chegou tarde, faltou, surfou e fumou muito. O professor dá por certo revê-lo ano que vem. A escola continuará. O tímido que levou um fora, depois transou com a garota. Ele continuou tímido, só que agora era namorado. O esperto faturou logo, e já busca outra garota. As experiências não os modificam. Elas simplesmente passam. Não foi possível rir dos apuros deles. Há tensão, mas a preocupação não dura: na outra cena a garota já trocou de braços, e o cara que trabalha estreia o uniforme novo.

American Pie é a ansiedade de saber se a noite da formatura valerá aquelas vidas. Antes dela, nenhum dos caras tem motivos para estar confiante, pois uma garota pensa que seu cara é "como todos os outros", outros dois passam embaraços públicos, etc. Eu ri da ansiedade e das descobertas. Vejo-me distante dos momentos dos personagens. O dia da formatura chegou rápido. A formatura passou. Relacionamentos virão, faculdade, uma vez que a escola foi cumprida. E ela foi cumprida no fazer sexo na noite do baile.

Sigo com inspiração em Montaigne, em "Que filosofar é aprender a morrer" (dos Ensaios): a morte da juventude, passando para a vida adulta, é pior do que a morte do adulto ou do velho. Nossa história de vida se desenrola até a formatura. Aprender a estudar, a superar notas ruins, a levar um fora da amada, pegar uma garota e não gostar dela, pegar outra e achar o sexo ótimo. Nesse tempo, se nasce, se cresce e se conclui. Tudo ocorre nesses anos. Depois da escola, a vida repetirá o já vivido. Agora é tratar de se manter com as roupas e os sapatos com que você gostaria de ser encontrado, quando morto. A morte vem vindo. Seu tempo está terminando.

Da mesma forma que você surgiu, aqui, você irá embora. Faça logo o que quer que seja o "para que a vida serve". Não lamente a morte, pois, se a vida foi ruim, morrer é uma benção, e se a vida foi boa, é para sair satisfeito, dela, como se sai de um banquete.

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