segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O que fazer nessas eleições

Sempre escutei dizerem, principalmente pessoas mais velhas, que não votavam em ninguém, "que político é tudo ladrão", "só aparecem para pedir voto", etc. Eu me perguntava: "será que todo político é ladrão?", e "porque não procuramos saber o que eles fazem depois de eleitos?". As manifestações iniciadas em junho de 2013 tiveram como característica a rejeição, por parte dos indivíduos que lá iam se manifestar, de partidos políticos, tanto à esquerda quanto à direita, e também da imprensa. Novas formas de reports surgiram, utilizando-se principalmente do vídeo, e sempre na internet. A Mídia Ninja foi a noticiada na mídia tradicional. O espírito é "esses que sempre falaram por mim, repórteres e políticos, não mais me representam. Agora eu mesmo falo por mim". Cada grupo organizador de sua própria mídia possui uma visão particular, que aparece no seu produto. Quem os observa filmando, ou assiste suas filmagens, também pode se imaginar fazendo aquilo, transmitir o seu próprio olhar. A expressão de opiniões teve inicio no facebook, ganhou as ruas, e se mantém online. Voltam-se à denúncia da proibição do direito à manifestação, patente na truculência da polícia, ao lidar com elas. Ainda não se fala sobre a cidade que se quer, tem se falado pouco sobre o que se espera da política. Pode ser que, ocorrendo falas propositivas, poderia haver uma coincidência no pedido por garantia de manifestações, mas dissensos quanto a todos os outros pedidos. A televisão tenta animar-nos a votar, assim como quis que entrássemos no clima da Copa. Mas a militância pró este ou aquele candidato está fraca. Volta e meia ficamos sabendo que a Dilma foi vaiada, numa aparição pública. Fosse o Aécio, no lugar dela, presumo que as vaias não seriam menores. Há certa indisposição para com os candidatos que nos foram ofertados. Carlinhos Brown chama-nos para a "festa da democracia". Dizemos de nós mesmos que somos despolitizados. Por isso, só nos animaríamos a votar se for por diversão. A reflexão sobre o que se vem fazendo e o que quer, o melancólico rejeitar tudo ao redor, voltar-se a si mesmo e não reagir ante propostas que lhe façam, vemos como um jeito de ser que não o do "brasileiro". Só que é este o clima em que estamos. Num sistema eleitoral em que os cardápio de candidatos já vem pronto pelo caciquismo e o poder econômico, ser cidadão não é escolher Dilma ou Aécio, ou achar que Marina é uma alternativa: ser cidadão é dar-se conta que, além do direito de escolha, temos o direito à liberdade de escolha, ou seja, podemos escolher, ou não escolher, quem foi posto como candidato. Abster-se, hoje, não é necessariamente afastar-se da política, mas dizer que se gostaria de participar da escolha dos candidatos. Entretanto, como não temos segurança dos nossos direitos, agarramo-nos ao do voto. O direito ao voto é algo em que nos apoiamos para contar certa história de heroísmo de nós mesmos. Orgulhamo-nos das manifestações pelas eleições diretas. Soa absurdo se declarar sem escolha política: "Como você não vai votar nele? E se o outro ganhar?" Ser politizado é uma obrigação pessoal, e a culminância disso é o voto. Aristóteles disse que somos "animais políticos", no sentido que tínhamos nossa humanidade definida pela participação nos assuntos da pólis. A pólis compreendia tudo o que era humano, e estar fora era ser bárbaro. Modernamente, passamos a ter vidas privadas. Delegamos ao Estado o atendimento dos nossos interesses individuais. No fim dos ano 70, no Brasil, saímos às ruas em entidades de classe, grupos de bairros, religiosos, de mães e de estudantes, em busca da redemocratização. Novos direitos também foram requeridos. Atualmente, há uma vontade de politizar tudo, de que se deve ser um indivíduo totalmente público. A direita reage, pesando a mão no lado oposto, dizendo que o Estado nunca deve se meter nas relações íntimas ou nas decisões individuais que não impliquem terceiros. A esquerda aparece querendo fazer com que o gozo e a experiência estética sejam políticos. Podemos ter uma existencia separada da política, e tê-la como uma das esferas da vida, não ela toda. Neste ano, teremos novos eleitos. Muitas abstenções, de pessoas que não deixarão de acompanhar, pelos jornais, o que eles estão fazendo. Elas querem boas coisas para todos, comentam isso. Mas olham enviesado o governante, um olhar que não é mais só do coroa ranzinza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário