domingo, 24 de agosto de 2014

Olhando casais

Sempre morei no Rio de Janeiro, capital. Estive recentemente em São Paulo. Andei por muitos trechos de metrô. Em um deles, vi duas mulheres se beijando. Elas terminaram o beijo e voltaram a olhar para a frente. Ainda trocavam carinhos. No Rio, os casais apenas começam a andar de mãos dadas. Fiquei surpreso com o que vi, na cidade grande. As pessoas cruzam complicadas linhas de metrô, passam por muitos estilos de roupa e cabelo, na Paulista, sempre atarefadas. Acompanhadas de um amor, beijam-no, e tocam a vida. No Rio olha-se para o que o outro fará. O personagem de José Mayer, na novela Império, Cláudio Bolgari, namora um homem. A divulgação desta relação, na imprensa, calcula Cláudio, arruinaria sua imagem de marido, pai e empresário. Ele mantém a linha, em público, mas sozinho com seu namorado ele pega fogo. A novela não mostra os beijos, assim como o próprio Cláudio esconde o que faz. Na interpretação agostiniana para o pecado original, quando Adão comeu o fruto proibido, Deus puniu sua desobediência fazendo com que uma parte do corpo dele o desobedecesse. Adão apareceu com o pênis coberto, diante de Deus, de envergonhado que estava. Uma pessoa atrai a outra, que a beija. O beijo explode a excitação. Quando um casal evita se beijar, em público, tendo já experimentado os efeitos de um beijo, está se vigiando para não se exceder. Quando experimentou pela primeira vez o prazer, vinculado à fruiçao do descontrole corporal, e, sabendo que deve controlar-se, em público, mas ainda assim novamente se beija, está se excedendo, cometendo o pecado da luxúria. Os olhos cariocas, acostumados a ver corpos e a avaliar comportamentos, por terem algum tempo sobrando, põem-se a vigiar o autocontrole dos casais. Sungas e biquínis são como folhas de parreira, para estes olhos. Cláudio Bolgari vive como um paulista, mas envergonha-se como um carioca.

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