terça-feira, 12 de agosto de 2014

O riso solitário

Manoel Marthos, sociólogo e meu amigo, reparou nos gritos de angústia de Robin Williams, em muitas de suas cenas. Ele parecia pedir socorro. Não era um "por favor, me ajudem", mas um "as coisas não estão bem, para ninguém". O riso dele era triste. O ridículo, algo que merece o nosso riso, é uma situação difícil, ruim, que não precisava ser daquele jeito. O Pateta sofria com o próprio trabalho. Em casa, os sons e vibrações da rua inseriam pesadelos, no seu sono. Ele, sonâmbulo, tropeçava, caía. Alguém caindo num buraco da rua é engraçado. É uma situação difícil vivida por ele, mas o ridículo por que ele passa é responsabilidade de terceiros. Rimos dele, sabendo bem que estamos rindo de qualquer um, pois qualquer um cairia naquele buraco. O riso é para o buraco. Chaplin rolando nas engrenagens é engraçado, porque as fábricas gigantes, e consumidoras de seres humanos, sao absurdas, ridículas. O ator de comédia espera esse nosso riso que bate nele e se projeta na realidade. O riso não muda nada. Os problemas continuam os mesmos. Ou será que mudam? Um operário, um soldado no Vietnã, um transeunte, se bem humorados, talvez sofressem menos. Talvez respirassem, aliviando a tensão. Quem sabe, encontrassem jeitos de escapar, ou até de solucionar, os problemas. Esse ator quer uma platéia que lhe lance risadas. Quando a platéia falta, ele fica impotente, e os problemas ganham força. O rosto de Robin, desesperançoso, atraía nossas emoções alegres e tristes. E ele tornava-se forte, apesar da desesperança. Eu gosto de fazer as pessoas rirem das coisas, ou melhor, rirem da caricatura que faço de mim mesmo, para que, rindo de mim, não seja de mim que estão rindo. Se ninguém curte meus posts, fico triste. Mantenho meu olhar sobre o mundo, porém fico enfraquecido. Mas, se não sou alegre como Robin, também não fico tão triste. E não vi Bom dia, Vietnã, nem Sociedade dos Poetas Mortos (fazer o que, não vi. "Ver, ué!"). Perdi as contas de quanto vi Uma Babá Quase Perfeita. Nesse filme, ele brigava muito com a mulher, e acabou tendo que se separar da sua família. O disfarce de babá permitiu que convivesse com seus filhos. Os adultos não se entendem, não conseguem evitar se ferir e precisarem se distanciar. Seus filhos lhe sorriam, aqueciam seu coração com um amor a que temos por puro, muito porque não é misturado com emoções tempestuosas. O rosto da babá era feliz, mas o do pai chorava, agradecido. Robin não teve outro grande hit, após a Babá. Agora suspeita-se de que se suicidou. Sabia-se que ele passou a beber muito. A alegria e a tristeza dele eram intensas. As emoções, selvagens. Eu não comovo tanto, porque não me aproximo daqueles pólos, quanto Robin se aproximou. Um ator sem platéia é algo triste. Um ator de comédia, solitário, fica completamente indefeso, diante dos demônios da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário