quinta-feira, 10 de julho de 2014

Ser viril é ser livre

Na Ilíada, o maior guerreiro dos gregos, Aquiles, tinha suas mulheres, mas era Patroclo o seu amor. A pederastia, entre os gregos antigos, era a relação de namoro e educação entre um homem e um jovem. A homossexualidade ocorria com a continuidade da relação quando o jovem se tornasse homem. Esta, sim, era motivo de riso. A pederastia, enquanto relação amorosa, era sobretudo de aprendizado do governo de si mesmo: além de um ofício, ensinava-se ao jovem a controlar o próprio jeito de viver o amor, e também o de viver outros prazeres. Tornar-se senhor de si mesmo, das próprias necessidades. Ser forte, e não fraco. As carícias eram de frente, não pelas costas, curvadas. O feminino era não virtuoso, uma falha enquanto cidadão. A rejeição ao homem feminino sempre baseou-se na preocupação quanto à sua capacidade de responder aos problemas internos da cidade e à sua defesa em guerras. Platão era homossexual, mas ninguém faria piada de um escritor e filósofo com o seu poder. Outras figuras históricas importantes inibiram, com sua excelência, a ousadia de alguém em comentar qualquer coisa sobre a sexualidade deles. O ponto sensível sempre foi o de ser viril ou não. Quem nos conta isso é o Ghiraldelli. Hoje queixamo-nos de grupos que tiram a liberdade de outros. É do nosso momento democrático e liberal esse aprendizado do falar sobre as próprias necessidades e das do outro, e do conhecer a si mesmo, fazendo isso. Mulheres realmente ganham menos do que homens, nas mesmas profissões. Sofrem violência em casa. Gays também sofrem. Isto tem a ver com a antiga rejeição ao feminino. Precisamos abraçar o feminino não apenas no outro, como em nós mesmos. A força, ou seja, o auto-governo, virtudes úteis na vida privada e pública, não precisa passar pelo masculino ou pelo feminino. Estes podem ser questões apenas do que se gosta mais. Na escola, vejo alguns dizendo-se meninos, outros meninas, a partir de como gostam de brincar. Depois, virão as preferências de cada um para amar. Virilidade tem a ver com outra coisa. O movimento gay afirma sua cores e alegria. É altivo e forte. Afirmativo. No entanto, o movimento negro e o feminista apresentam um discurso de vitimização: brancos oprimem negros, homens oprimem mulheres. Há, sim, muitos contextos de opressão. Cotas étnicas têm levado a brancos a conviverem com negros em espaços onde essa convivência não existia. O preconceito racial tende a diminuir. Também contribui para isso a cultura de massa. Nunca houve tantos personagens negros numa novela das nove quanto há na novela atual, Em Família. Quanto às mulheres, a lei Maria da Penha foi criada, e precisa ensejar mais denúncias a agressores. Professoras, quando fazem greves, são tratadas com truculência pelo Estado. Isso diz do nosso desinteresse pela educação, mas também, de uma desqualificação do trabalho da mulher. Mais greves precisam ocorrer, com mais apoio do restante da sociedade. Essas são lutas contra problemas de negros e mulheres. No caso das mulheres, dizer que o machismo encontra-se em todas as relações não ajuda a entender e resolver os problemas delas. A troca de posições de dominação ocorre na maioria da relações, com consentimento e prazer para ambos. E a mulher tem uma grande força, na beleza associada à inteligência, e no cuidado dos detalhes da casa e, cada vez mais, em ambientes públicos e profissionais. Falar sobre um machismo geral enseja uma reação das mulheres não de demonstração de força, afirmação de si mesma, mas de rejeição delas quanto à feminilidade. Esse movimento (https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/pelo-direito-de-broxar-falir-e-ser-sensivel-campanha-pede-que-homens-libertem-se-do-machismo/) diz que o homem também é oprimido pelo machismo. Que ele sofre pressão para gostar de futebol, e ridicularização quando broxa. Nietzsche alertou-nos para o igualamento de todos na fraqueza, na desconfiança da vida e no temor ante a exigência que ela nos faz, que é a de sermos fortes. Ficamos todos oprimidos, pedindo compaixão e jurando sermos bonzinhos. O vídeo deste link diz para o homem libertar-se e encontrar-se. Que ele deveria ver o que ele realmente quer e não o que a sociedade quer para ele. Eu digo: a sociedade somos eu e você, e agimos de um jeito e não de outro porque assim o queremos. Se um elemento da cultura e ethos incomodam, trazem infelicidade, precicamos não nos colocar como vítimas deles, e começar a por nossos interesses novos. A queixa de que não se pode broxar (constante no link), não está pedindo uma maior compreensão da pessoa com quem faz sexo: antes mostra um pedido do homem para que parem de cobrar-lhe ação, orgulho, etc, num momento em que são exatamente essas coisas que estão faltando. Estamos sem saber o que fazer com nossa própria vida, e querendo desistir. Não há querer "mais real" que não esteja já sendo atendido. Procurá-lo numa interioridade é fugir deste mundo, indo para o nada. É ser mais prisioneiro, não mais livre. O gay, a negritude e o feminino precisam colocar-se como virilidade. Quanto mais bebermos dessas referências, mais interessantes seremos, e com mais tesão pela vida. Libertar-se é isso. Eu advogo o querer ter mais tesão e gozo, também para todos, e não o direito de broxar.

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