domingo, 6 de julho de 2014

Cuecas e calcinhas

O cara tem as mesmas cuecas há anos. Cuecas tipo sunga, mesmo. Quando vai encontrar uma mulher, coloca a que ainda tem a cor parecida com de quando era nova, um elástico que ainda segure um pouco e sem furos. Se a mulher for muito boa, aí compra um daqueles pacotes de três unidades da C&A ou da Americanas. Vem três cores. O cara vai de preto, porque quer ser homem. No primeiro niver de namoro ganhará uma boxer. Usará três vezes, como short, quando estiver com a namorada. Nunca como cueca. E a perderá em algum lugar. Voltará para as velhas amigas. Uma vez por ano a namorada presenteará com novos pacotes de três, para tentar dar alguma dignidade para ela mesma, quando olhar o cara com quem dorme. Desde que fizeram o primeiro sexo, o homem sentiu grande vontade de chutar a cueca para debaixo da cama e andar sem (pedroca), principalmente quando em companhia da mulher. No trabalho, jamais. A não ser que a mulher o visite. A preocupação de um homem com a própria cueca, como se ela fosse uma roupa que precisasse ter estilo e cor (azul não é cor, numa cueca, só variação do preto e do branco), é do gay. As cuecas do gay são bonitas, roupas, mesmo. Falando agora de calcinhas. Calcinha de renda é de mulher complicada. Rendas são desenhos complicados, e só já tendo uma confusão de ideias na cabeça para usar isso sem se embananar mais. E rendas pinicam. Só estando confuso para não sentir. O homem bate o olho e já vê que é complicada, da mesma forma que o homem é realmente um desleixado, como a cueca puída e desbeiçada mostra. A calcinha lisa e de algodão é a ideal. Simplifica o que não precisa ser complicado. Se tiver muito poliéster no tecido, o toque fica um pouco incômodo. Transparente é para garotinhas ou coroas. É divertido de ver os pelos ou a falta deles, por baixo, mas também não chama para o toque. Será que elas se tocam? Gostam de toque, como a que usa de algodãozinho, simples, esticada sobre um lençol claro? Certas coisas são boas demais para acharmos que são possíveis. Cuecas e calcinhas são nossa segunda pele. Colam-se aos sacos, paus e bocetas nas horas alegres e tristes, e na tensão de um tesão ou de um perigo. A pele tem uma capacidade de renovação que a segunda pele não tem. Esta se modifica com o uso. Corrói-se com os liquidos e as lavagens. É mantida durante anos, ou é sempre renovada. São eus muito permanentes. Posso ser o desleixado, o conquistador, o gay, a complicada, a transparente ou a descomplicada dos 30-40 anos. Escondo, mostro coisas, e aparento estar diferente. Lavo-me e fico pronto pra outra. Mudo de ideia quanto ao que quero, no mesmo dia. Mas as cuecas e as calcinhas ainda precisam de tempo para envelhecer.

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