sexta-feira, 20 de junho de 2014

Ódio ao negro, ressentimento do branco

Escrito em 10 de fevereiro, ocasião em que foi noticiado o aprisionamento do jovem negro a um poste, no Aterro do Flamengo: Quem busca justiça é movido por um afeto: a injustiça dói no peito, e a coragem impele para forçarmos o reequilíbrio de uma situação. Lutar por direitos humanos é coisa de macho (como diz Paulo Ghiraldelli Jr.)! Mas há os que acham que o paraíso na Terra é o fazer da vida de outros um inferno. Negros, pobres e gays têm sido olhados pelo Estado, e pelo todo da sociedade, com uma generosidade que não se tinha visto antes. Estamos mais próximos de uma situação de justiça, ou melhor, de justiça social. Isso desperta o ressentimento de certos setores. Uma fala "nunca fomos atendidos" vem de quem conseguiu uma condição relativamente boa de vida, fruto de inserção em oportunidades decorrentes da dinâmica mercado-governos, mas também sujeita a perda de poder de consumo, a não poder consumir como uma classe mais alta, e a ter que conviver com pobres. Vem de quem tem visto a aproximação, em poder e lugares de consumo, de muitos desses pobres, agora não tão pobres. Toda uma história do branco que acha que negro não é gente, que só ele próprio pode gozar dos benefícios da vida moderna, e dispor da vida do negro-bicho; uma história de frustrações, com o escravagismo que ficou anti-econômico, o não consumo de des/subempregados, que prejudicam os negócios, a empregada doméstica que extrapola o orçamento, etc; é uma história de vontade de conquistar coisas, misturada ao desejo de abusar do outro. Ambos têm sido dificultados, e seu impulso vira raiva remoída interiormente (vira todo um mundo interior de ressentimento), e espera da primeira oportunidade para se responder um roubo com linchamento e humilhação. A desproporcionalidade da resposta é essa raiva contra tudo dirigida a quem se pensa ser culpado. Que ele volte para de onde veio, que o negro pobre saiba seu lugar! Uma raiva deste tipo tem ocorrido em uma porção de lugares, e está atrás dos olhos dos justiceiros do Aterro.

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