quarta-feira, 18 de junho de 2014

O sol de César e Félix

Escrito em 1º de fevereiro, quando do último capítulo de "Amor à vida": "Há coisas que não podem ser ditas". Essa frase dizemos bastante. E ela é uma verdade, para nós. Assisto ao nascer do sol. Assisto ao nascer de um ser. Assisto ao morrer do sol, e de um ser. O sol, de fato, não morre, mas um ser, sim. Enquanto vivemos, sentimos amor por algumas pessoas. Também sentimos ódio. Quanto mais fortes forem esse amor e ódio, tåo mais difícil será explicá-los. A astronomia explica o que faz o sol aparecer e desaparecer para o homem. O astrônomo, contudo, olha pela janela ao acordar e sente alegria e boa disposição. O médico e o biólogo têm suas explicações para o começo e o fim da vida, mas choram quando nascem seus filhos, choram quando morrem seus pais. Choraram quando eles próprios nasceram. E guardam um medo da morte. Falamos muito sobre essas coisas, mas temos a impressão de que nunca é o bastante. Sentí-las é o melhor que podemos fazer. Como explicar porque amo alguém? Posso dizer muito, num momento, e logo adiante ter que dizer mais. O porque de ser amado também não é simples. E os motivos de um ódio nunca dão conta desse sentimento. É por isso que tantas histórias contamos sobre essas coisas! Félix passou a novela armando e executando planos para chegar à direção do hospital do qual sua família é dona. O principal alvo desses planos era sua própria irmã, pois a simples existência dela ameaçava seu objetivo, e, pior, roubava-lhe o amor do pai. Agir de forma maldosa não lhe era difícil. Explicar totalmente esse ódio é que ele não podia. Na cena em que ele confessou ter jogado a Paulinha, então bebê, no lixo, Paloma se disse enojada, e Pilar, sua mãe, que ele era monstruoso. O feito poderia ser explicado objetivamente, mas a sensação decorrente dele era inefável, um iceberg do qual só se percebe a ponta. Félix virou um pária, um ser estranho. Não podia mais conviver com a família, pois havia deixado de ser irmão e filho. Márcia, que o acolheu, e não estava tão envolvida naquele drama, disse que ele agiu terrivelmente. Niko também pôde dizer isso a Félix. Algum tempo depois, Pilar o procurou, e pôs como condição para o reingresso dele em casa, uma confissão completa a Paloma. E Félix contou à irmã o que, de tão terrível que era, havia sido mais fácil fazer, e esquecer, do que dizer. Paloma pediu para que ele lhe fizesse entender tamanho ódio. Félix deu suas razões. Ele mesmo então foi vendo a própria irracionalidade, e arregalava os olhos assustado de si mesmo, e temeroso pela reação da irmã. Félix precisava de uma chance para agir diferentemente. Paloma, então, pediu sua ajuda para livrar César de Aline. Para desvendar esquemas maldosos, ele era bom. Paloma ainda dizia não conseguir perdoá-lo, mas apreciava a solicitude dele. Félix também ajudou Niko a manter o próprio bebê. Apesar disso, o que ainda havia para se dizer sobre Félix é que ele é mau. No último capítulo, Paloma disse ao irmão que, ao abraçá-lo, quando da retirada do pai de ambos da casa de Aline, sentiu por ele uma nova afeição. O primeiro amor dela por ele fora destruído, e infinitas explicações de Félix não o consertariam. Mas a cooperação dele, e o abraço espontâneo, fizeram o novo sentimento. Félix também disse sentir afeição por ela. No casamento de Paloma, Paulinha veio perguntá-lo o porque de ele não gostar dela, que o admirava tanto. Uma dia ele contaria a ela o terrível ato que cometera, e seus motivos. Abraçaram-se. Félix prometeu ser sempre um amigo. Quando a verdade aparecer, eles então terão um forte, e não totalmente explicado, sentimento bom. Isso ajudará a suportar a monstruosidade do passado. Todos quisemos ver o beijo de Félix em Niko. Ele estava vivendo muitas coisas novas, mudanças boas. Como expressar isso em palavras? As palavras haviam sido todas usadas em suas guerras. O quanto ele dissesse que amava Niko não bastaria. Só um beijo faria jus ao que ele sentia. O público não se satisfaria com blá blá blá. A novela deveria ser mais ação e emoção, neste final, e menos fala. O beijo aconteceu. Também aconteceu de pai e filho olharem juntos o por do sol. Muitas bobagens eles haviam dito um ao outro, ao longo de suas vidas. O sol morria, mas prendeu o olhar de ambos e os fez darem as mãos. As leis do cosmos também no governa, pensamos desde os gregos antigos. Era hora de descansar. Não sabemos nos explicar direito. Nos é difícil fazer o certo. Buscamos nossos pais, mães, filhos, a vida toda. Palavras de amor nunca bastam. Palavras de ódio ujamais podem ser verdade. César e Félix disseram "eu te amo" um para o outro, como palavras-gestos intermináveis. Choraram, ainda de mãos dadas.

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