segunda-feira, 2 de junho de 2014

Manifestações padrão FIFA

Demorou para as pessoas se animarem com a Copa. Epa, espera! Têm bandeiras, recesso programado, em alguns lugares, mas ainda não estamos alegres. Os apresentadores da Globo dizem que sim, e eu quase vi alegria por aí. Mas então eu vi melhor. Nas outras Copas, a festa estava a toda. A Copa agora é aqui. O mundo nos vê. A desanimação é porque não temos roupa para irmos em nossa própria festa? Estamos olhando para nós mesmos. Quero dizer, sempre olhamos para os problemas, mas como coisas que não eram para metermos o bedelho. Agora estamos nos vendo como pessoas que falam, se juntam, falam mais alto, cobram do governo, mostram que não estão achando bom. Os problemas públicos são meus e seus, agora. Falar do que se quer para si está muito junto do falar do que se quer para a cidade. Se as ciências sociais ainda dividem público e privado, é pela diferença de comportamento, diferença entre moral e ética. Mas a moral da casa é assunto público. E os destinos da cidade não nos são mais indiferentes. Hoje, o Faustão afirmou que, se quer sediar a Copa, o Brasil precisa resolver seus graves problemas, mas... que as manifestações parem durante o evento, pois não pegaria bem lavar roupa suja na frente da visita. Que nos mostremos educados, e resolvamos as questões nas próximas eleições. O governo não pediria outra coisa. Sempre estivemos no público, com interesses privados. Não há como fazer diferente. Não há um problema, aí. José Murilo de Carvalho explica que não desenvolvemos uma consciência dos direitos civis, de pertencimento da sociedade enquanto indivíduos com direito às suas propriedades, opiniões e vida. Só nos importamos com os sociais, compensatórios, e que não são nada garantidos. Então vivemos num "salve-se quem puder", para termos saúde e educação. Para esta, temos dado de ombros. As atuais manifestações reforçam o pleitear pelos direitos sociais. As greves também têm se fortalecido, embora ainda estranhemos que um trabalhador queira ganhar o justo pelo trabalho dele. Ainda achamos que o pobre, ou seja, quem não tem bens, deve se virar por conta própria. Estas questões têm sido pensadas e conversadas pelas pessoas. Têm mudado sua fala, e alterando seu ânimo, em direção ao público. Com estrangeiros aqui, nada disso será interrompido. Olhar para si mesmo é mediado pelo olhar do outro, a forma como o olhamos e somos olhados por ele. E esse olhar, que sempre foi o de que temos problemas, está acrescido da perspectiva de que podemos intervir. Estamos ocupados demais para termos vergonha dos estrangeiros. Ou, agora que estamos falando, não falar durante a Copa é que daria vergonha. Vamos comemorar os gols e as vitórias, e também protestar. Não será festa acima de protesto, ou serão feitos em horas diferentes: meu palpite é de que faremos tudo junto. Porque, não? O carnaval começou como, e ainda é, manifestação política! Que a Globo e o governo se segurem, pois as manifestações serão padrão FIFA.

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