sexta-feira, 20 de junho de 2014

Batemos em professores

Escrito em 2 de outubro de 2013, por ocasião de uma greve dos professores, duramente reprimida pela polícia: Batemos em professores. Somos capazes disso. Não parecemos ter qualquer limite. Quando queimamos mendigos, chacinamos favelados e matamos mulheres, sentimo-nos mal, mas jamais deixamos de comer e de dormir. E nos parece ainda mais natural que a escola pública esteja destruída, e que os professores ganhem mal e que farão greve. Quem está de fora, reclama da greve. Acha que o Brasil é difícil pra todo mundo, e que cada um deve se apertar calado, ou se manifestar em mesa de bar. A polícia bate em nosso lugar, e bate para matar. Se ainda não havia matado uma professora, foi por sorte. Também há um problema em pensarmos que não se pode estar seguro nos dias de hoje. Achamos normal pensar que dá pra morrer na mão de alguém, de uma hora para a outra. Cada um que cuide da própria vida, por isso o Estado não precisa cuidar de ninguém. Então não exigimos escola e hospital. Se estar vivo não é importante, quem assiste à vida não tem qualquer autoridade. Temos até alguma sensibilidade para com os problemas dos médicos, damos-lhes alguma importância, pois são quem assistem aos nossos últimos suspiros. Mas o professor, o que nos vê crianças, o que sabe que não sabemos tanto assim, aquele por quem temos ressentimento, esse deve apanhar. Ninguém diz que teve infância feliz, e se é feio culpar os pais, que apanhem de volta os professores. E não achamos importante a educação, ela não faz parte dos nossos planos para nós mesmos. Não acho que aceitaríamos que matassem todos os professores, pois, afinal, a nossa realidade de “Brasil desgraçado” estaria comprometida, poderia deixar de existir. Mas deixamos que apanhem, que penem bastante em vida. Todos deveriam participar das manifestações dos professores. Estamos todos ligados à escola pública, com o nível de cultura geral do país. Não podemos ficar satisfeitos em sermos medíocres. E devemos estar com aquelas que nos cuidaram, que cuidam dos nossos filhos. Sustentamos um Estado para que ele nos dê meios comuns de vida, mas viemos aceitando a violência por suas mãos, realizando a nossa intenção. Ficamos insensíveis e atingimos o cúmulo da barbárie ao batermos em professores. Uma manifestação por eles e pela escola é, na verdade, por mim e por você, por quem fomos e por quem somos. É por um futuro de boas possibilidades para o nosso desenvolvimento espiritual. E é por um presente de respeito e agradecimento por quem nos apresenta as chances de sermos pessoas melhores.

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