sexta-feira, 6 de junho de 2014

Brincadeira de criança

O menino olhava embaixo da saia da boneca. "Olha a xereca dela!", falava alto para as meninas, mostrando a xereca da boneca. Aos cinco anos, eles adoram seus genitais. De acordo com as fases do desenvolvimento psicossexual, de Freud, a criança começa tendo a boca como zona erógena e de conhecimento das coisas; em seguida, sente o prazer da retenção e da eliminação das fezes; e chega à fase em que friccionam seus genitais a almofadas, meninos brincam mais com meninos, meninas com meninas, testando força e trocando suavidade, erotizando-se. "Zona erógena", ponto que atrai Eros para o nosso corpo. Eles têm curiosidade e gostam de exibir seu piru e xereca. Têm uma enorme curiosidade com aquilo que eles mesmos não têm. Curiosidade com o corpo e seu erotismo é curiosidade imaginativa, intelectual. Quando eu estava nessa idade, gostava de tirar os braços e as pernas dos meus bonecos. Então os encaixava nos troncos uns dos outros, misturando, também, os braços e as pernas. Chamava-os de travestis. Para mim, travestis eram aqueles que viviam muitas experiências, de homens e mulheres. A vida era enorme, era interminável o que havia para ver e sentir. Sei lá. Eu levava meus travestis para escola, para todo mundo ver. Era só eu falar "eles são travestis!", que já dizia tudo. Após a fase genital, no período de latência, a criança deslocará sua libido para os estudos e a socialização. Aos oito, nove, o corpo voltará a atrair atenção para si. A sexualidade será genital, mas com participação fundamental da boca, do ânus e, porque não, de outras partes de si mesmo. Aos cinco os brinquedos falam as experiências da criança: o boneco potente, que destrói todo mundo, ou que é o marido da professora; a boneca que desperta a sensação de se estar olhando em um lugar íntimo. Então o garoto olha dentro da roupa da boneca, e mostra essa ousadia, aos outros. "Meninos, vamos ver a xereca!". "Meninas, olhem o que eu estou vendo! A de vocês eu só vejo de relance, mas a da boneca eu vejo à vontade". Os garotos vão brincando com os limites entre curiosidade e respeito, entre prazer e limite. Antes dessa idade, os brinquedos já falavam das experiências de cada um. Mas agora elas vão ficando mais pessoais: não mais o Ben-10 ou a Elza, e suas histórias, mas a boneca que mostra o que eu mesmo quero ver e mostrar. Bonequinhos vão ficando de lado. Agora os meninos são seus homens. Bonecos uns para os outros.

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