sexta-feira, 20 de junho de 2014

A bunda mexe

As meninas no baile funk empinam a bunda. A parte plebéia e democrática do corpo não passa despercebida de homens e mulheres, policiais e manifestantes, gays e evangélicos, Pondés pessimistas e conservadores e Safatles programáticos e carcomidos. Ela dança sensual e, se cansada, senta onde dá. Valesca relembra-nos que a razão não pode desvincular-se da experiência, do materialismo vulgar, dos sentidos; que o homem é um animal que quer brilhar, consumir, e que rebate a inveja. Relembra-nos que precisamos comer e deixar de sofrer, e que sabemos dançar e trepar, com prazer. Ela oferece a visão do final das coisas: o chão e os dejetos, o inseparável dos nossos melhores planos. Recebe o pé que encerra os belos relacionamentos. O pé na bunda doeu, então ela tem a sua dignidade. Ensinará ao corpo a hora de agir ou segurar, para não falhar novamente. Chama-nos para as consequencias do que fazemos, a moral à consciência de si mesma. "Na consciência ingênua, a moral age como uma parte do inconsciente: o inconsciente, o mecânico, o não livre em nosso comportamento... eis o verdadeiro mal" (Sloterdijk, Crítica da razão cínica. p.251). A bunda é a Esclarecedora dos "esclarecidos" à esquerda e à direita. Está no horizonte de todo mundo, embora esquecida por razões muito preocupadas com si mesmas, as suas ideologias. Pondé e Safatle vêem, mas ficam no "porque não fico excitado? Tem algo errado com ela? Comigo?"

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