sábado, 5 de abril de 2014

Gritos com professores

Democracia é governo com o aval da maioria. Os indivíduos sob regime democrático apresentam suas opiniões sobre as necessidades da cidade e as próprias. Para isso funcionar, é necessário que haja uma identificação de interesses próprios e coletivos: "o que eu preciso é que o trânsito melhore". Além dessa identicação, para que um indivíduo possa apresentar-se na discussão política, ele precisa ser educado, passar por escolas e professores que o ensinem a pensar tecnica e moralmente, e a saber, na relação dele com a cidade e o Estado, quais são seus direitos e obrigações. Ele deve conhecer muito bem o que exigirá do governo. Não basta pedir saúde. Tem que saber o que é saúde, doença, tratamento, hospital, profissional de saúde, política de saúde, etc, para que uma exigência seja efetiva. Como também falta escola, não se aprende o que é saúde, e muito menos o que é escola. A democracia requer, portanto, educação e um modo de vida democrático, um gosto pelo opinar e pelo debate de opiniões. A democracia pode acolher, em seus debates, opiniões antidemocráticas. A educação pré-universitária é inexistente. Chega-se à universidade para tudo, menos para se estudar: faz-se amigos, namora-se e politiza-se, faz-se de tudo menos estudar. Professores mais rígidos, os que fazem o aluno tet disciplina, conseguir raciocinar e formar suas opiniões, e ouvir a dos outros, são detestados. Uma coisa que se consegue ouvir numa escola, mesmo que não se assista aula, é que a ditadura brasileira foi ruim. Ouve-se isso porque isso é dito em todo canto. Militantes à direita ou à esquerda não sabem o que elogiar ou nunca mais querer ver numa ditadura. Quem elogia jura que o país melhorou em tudo, e tornou-se menos violento. Quem não gosta de ditadura diz que nela não se podia falar, e quem falava era torturado, muitas vezes morto. A militância de esquerda fala o certo. Contudo, ela não sabe explicar porque é errado não permitir a expressão de uma opinião. O nível de elaboração dessa moral é baixo: "é proibido proibir", pronto, acabou. Não se constrói o raciocínio moral que explica que proibir uma opinião fere o direito do seu expressor. Ele deve poder falar o que quer, e educar-se para poder opinar melhor. E deve querer que o outro também dê a opinião dele. Mas o universitário e o militante não sabe porque o direito é o certo. Foi divulgado um vídeo (http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/04/01/alunos-invadem-aula-de-professor-da-usp-que-defendia-revolucao-de-64.htm)em que alunos da USP interromperam uma aula do curso de História. Segundo a descrição do vídeo, o professor falava favoravelmente à ditadura, e esse teria sido o motivo da manifestação. Alunos calaram o professor no grito. A mesma cena ocorre em outras universidades. Educar-se não é importante. Educar-se para ser cidadão de uma democracia, também não tem valor. Instituições parecem peças pesadas demais para quem tem o furor de gritar. Todas as regras e figuras de autoridade parecem más. O bom é dizer o que vem à cabeça, mesmo que ela não tenha aprendido a pensar. Nos momentos pré-golpe de 64, o Brasil não estava ameaçado de ditadura comunista. Os militares acharam que sim, e fizeram a ditadura eles mesmos. Hoje o clima não sugere uma ditadura de direita. Mas nossos jovens vêem ditadores embaixo da cama. Agrupam-se, fazem cartazes, e aparecem para censurar e linchar publicamente professores. Acho que seu temor é que o velho conservador não tenha mais pulso para proibir nada. Por isso a turma do grito aparece para mostrar como é que se é autoritário de verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário