terça-feira, 8 de abril de 2014

A mulher toda

Valesca Popozuda mostra que não só o corpo da mulher é todo dela, mas que o próprio corpo é toda ela. Meu corpo é todo eu. A Valesca apresenta suas lutas (inveja, traição, desejos) como relacionadas ao corpo próprio: invejam-na pelas jóias que ostenta, e por ser olhada por muita gente, ao que ela responde com beijinho no ombro; ela canta que, na exploração por que passava , ela "lavava e passava feito uma maluca", e que agora viraria puta; ela é desejada, mas a "porra da boceta é dela", e seu uso seguirá os desejos e vontades da dona. Há gente que ouve a Valesca, e outros artistas populares, tomando-os como engraçados. Realmente, o popular é o não refinado, o não espiritualizado: as opiniões saem espontaneamente, falando pelo corpo todo, e a expressão das emoções é "barraqueira". Rimos deles, mas, no momento em que começamos a dizer que nosso corpo nos pertence, que devemos viver, escolher e controlar os próprios desejos, é para esses artistas populares que olhamos, não para a cabeçudisse de Caetano, ou para a "alma feminina" oferecida pelo Chico. Aprendemos a ter prazer com o "lepo, lepo, lepo', e com o "quero te dá, dá, dá...". (Leiam também o texto do Vitor Lima, a respeito do Dia Internacional da Mulher, 8 de março: http://lima-vitor.blogspot.com.br/2014/03/o-corpo-e-todo-da-mulher-nao-pera.html)

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